segunda-feira, 30 de abril de 2007

O CINEMA DA PETROBRAS

por Ipojuca Pontes

Engana-se redondamente quem imagina que o cinema nacional, custando perto de R$ 800 milhões anuais ao bolso do contribuinte, tem algum compromisso com o desenvolvimento industrial e a auto-sustentação da atividade. Na verdade, o cinema da Era Lula é antes de tudo um fato político para servir de arma contra o capitalismo e a propagação e implantação da “idéia” socialista – que se sabe um horror.

A proliferação de inúmeras escolas e cursos de cinema nas universidades de todo Brasil não tem outro objetivo: formar (precariamente) magotes de cineastas (“quadros”, na linguagem dos PCs) engajados na “luta transformadora” para moldar, por meio de “filmes conseqüentes”, a criação de um novo “senso comum” – eles formam uma “tropa de choque” na área da “mais importante de todas as artes” (Lenin) para formular uma interpretação crítica da história comprometida com a versão marxista da “nossa realidade”. Como peças instrumentais para a criação de um “novo senso histórico” são manuseadas, em tais cursos, com fé mística, as lições contidas nos “Cadernos de Gramsci” e nas apostilas dos obtusos cursos da Escola de cinema de Cuba.

Neste segundo período do governo Lula, que está querendo estabelecer um império de mil anos, o cinema tem importante papel a cumprir. Por enquanto, a exemplo do que ocorre com a literatura engajada dos cientistas sociais, a “revisão crítica” da história recente do país é a tarefa que vem sendo “construída” pelos mentores oficiais da atividade cinematográfica. Assim, com os fartos recursos de empresas estatais como a Petrobras e a Eletrobrás, e de bancos como o BNDES, transformados em núcleos de produção a serviço da “causa”, o cinema milionário elegeu como tema a ser explorado o arregaço da ditadura militar de 1964.

Pelo que consegui contabilizar, desde “Olga” até “Batismo de Sangue”, exemplar mais recente, elevam-se a 12 o número de filmes sobre o assunto, todos de orçamento milionários (também em dólares), alguns com dispendiosas filmagens no exterior. O que nivela tais produções, além do dinheiro grosso investido sem retorno econômico, é o absoluto empenho em mistificar os fatos históricos ocorridos naqueles dias. Em tais filmes, o terrorista de esquerda é tratado como o supremo agente do bem - mocinho empenhado numa luta de vida ou morte para restituir as liberdades democráticas ao país. Mas os fatos históricos reais ocorridos no pré-contragolpe de 64 são sonegados ao público, em geral, de modo vergonhoso.
Por exemplo, em nenhum deles se menciona que Francisco Julião e Clodomir Moraes, já em 1961, recebiam armas e dinheiro de Fidel Castro, o tirano moribundo, para fomentar com as Ligas Camponesas a “revolução do campo” no Nordeste. Nem tampouco se referem à agitação do Partido Comunista, levada adiante com pronunciado ativismo, nas universidades, nas fábricas, nos sindicatos, associações, quartéis e nos meios de comunicação. Nunca se informa ao espectador que Dante Pelacani, sindicalista corrupto, tratava Jango - o boneco manco das esquerdas organizadas - por “tu” e enfiava o dedo em riste nas ventas do Presidente. Nem que delegações maoístas desembarcavam da China com maletas cheias de dólares para promover a subversão do regime e nem tampouco se mostra que o país, paralisado por greves permanentes, caminhava para uma hiperinflação digna de fazer inveja ao futuro desgoverno de Zé Sarney, o Bengalinha.

Pelo que sei da história do sacrificado dominicano Tito - personagem do livro “Batismo de Sangue”, de “frei” Beto (vai com um “t” só, pois, no seu caso, dois é demais) - ele representa o típico caso do inocente útil manipulado pelas mãos de comunistas delirantes, tipo Carlos Marighella, que tinha por objetivo erguer no Brasil, sob a bandeira da “defesa das liberdades”, um governo totalitário semelhante ao implantado por Fidel Castro em Cuba. O caso de Tito é, nas devidas proporções, o mesmo do camponês paraibano João Pedro Teixeira, assassinado e, depois, feito mártir pelos comunistas que incensavam no seu limitado ouvido, dia e noite, a cantilena da revolução agrária tendo ele, João Pedro, como “líder histórico” da empreitada.

(No meu entendimento, acho o que os militares têm a sua parcela de culpa neste processo de lavagem cerebral posto em marcha, a todo vapor, pelo cinema da Era Lula: foram eles que, com a criação da Embrafilme, estatizaram a atividade cinematográfica e, pior que isso, não fizeram da empresa cinematográfica um órgão de denúncia contra a ação contínua da máquina esquerdista - nacional e internacional - sempre envolta em sangue, conchavos, falsificações e mentiras. Pelo contrário: permitiram que a empresa, tendo a frente tipos como Celso Amorim, “O Vermelho”, produzisse filmes contra eles próprios).

O mundo preconizado por “frei” Beto, o guia espiritual de Lula e similares, está ai diante dos olhos de todos. Em vez de paz e justiça, prevalece nele a maior soma de patifarias, injustiças e violências jamais vividas em qualquer governo “burguês” da nossa história. O próprio “frei” Beto - hoje da “classe dominante” e então assessor direto de Lula da Silva, com sala anexa ao “companheiro” Presidente - foi testemunha omissa da imolação de José Antonio, o ajudante de pedreiro que depois de uma semana de amargura ateou álcool no próprio corpo, como ato de repúdio ao descaso geral, diante do palácio do planalto ocupado pelos petistas e esquerdistas das mais diversas tendências e tonalidades.

Um fato, no entanto, é consolador em meio da mistificação geral produzida pelo cinema “engajado”: à proporção que os orçamentos de tais filmes aumentam de forma galopante, o público volta-lhe às costas. Em geral, são exibidos para um pequeno gueto de “iniciados” e sequer conseguem pagar as cópias.
(Vai ver que é por isso que o preço da gasolina da Petrobras, cada vez mais misturada, só faz subir).