segunda-feira, 30 de abril de 2007

O CINEMA DA PETROBRAS

por Ipojuca Pontes

Engana-se redondamente quem imagina que o cinema nacional, custando perto de R$ 800 milhões anuais ao bolso do contribuinte, tem algum compromisso com o desenvolvimento industrial e a auto-sustentação da atividade. Na verdade, o cinema da Era Lula é antes de tudo um fato político para servir de arma contra o capitalismo e a propagação e implantação da “idéia” socialista – que se sabe um horror.

A proliferação de inúmeras escolas e cursos de cinema nas universidades de todo Brasil não tem outro objetivo: formar (precariamente) magotes de cineastas (“quadros”, na linguagem dos PCs) engajados na “luta transformadora” para moldar, por meio de “filmes conseqüentes”, a criação de um novo “senso comum” – eles formam uma “tropa de choque” na área da “mais importante de todas as artes” (Lenin) para formular uma interpretação crítica da história comprometida com a versão marxista da “nossa realidade”. Como peças instrumentais para a criação de um “novo senso histórico” são manuseadas, em tais cursos, com fé mística, as lições contidas nos “Cadernos de Gramsci” e nas apostilas dos obtusos cursos da Escola de cinema de Cuba.

Neste segundo período do governo Lula, que está querendo estabelecer um império de mil anos, o cinema tem importante papel a cumprir. Por enquanto, a exemplo do que ocorre com a literatura engajada dos cientistas sociais, a “revisão crítica” da história recente do país é a tarefa que vem sendo “construída” pelos mentores oficiais da atividade cinematográfica. Assim, com os fartos recursos de empresas estatais como a Petrobras e a Eletrobrás, e de bancos como o BNDES, transformados em núcleos de produção a serviço da “causa”, o cinema milionário elegeu como tema a ser explorado o arregaço da ditadura militar de 1964.

Pelo que consegui contabilizar, desde “Olga” até “Batismo de Sangue”, exemplar mais recente, elevam-se a 12 o número de filmes sobre o assunto, todos de orçamento milionários (também em dólares), alguns com dispendiosas filmagens no exterior. O que nivela tais produções, além do dinheiro grosso investido sem retorno econômico, é o absoluto empenho em mistificar os fatos históricos ocorridos naqueles dias. Em tais filmes, o terrorista de esquerda é tratado como o supremo agente do bem - mocinho empenhado numa luta de vida ou morte para restituir as liberdades democráticas ao país. Mas os fatos históricos reais ocorridos no pré-contragolpe de 64 são sonegados ao público, em geral, de modo vergonhoso.
Por exemplo, em nenhum deles se menciona que Francisco Julião e Clodomir Moraes, já em 1961, recebiam armas e dinheiro de Fidel Castro, o tirano moribundo, para fomentar com as Ligas Camponesas a “revolução do campo” no Nordeste. Nem tampouco se referem à agitação do Partido Comunista, levada adiante com pronunciado ativismo, nas universidades, nas fábricas, nos sindicatos, associações, quartéis e nos meios de comunicação. Nunca se informa ao espectador que Dante Pelacani, sindicalista corrupto, tratava Jango - o boneco manco das esquerdas organizadas - por “tu” e enfiava o dedo em riste nas ventas do Presidente. Nem que delegações maoístas desembarcavam da China com maletas cheias de dólares para promover a subversão do regime e nem tampouco se mostra que o país, paralisado por greves permanentes, caminhava para uma hiperinflação digna de fazer inveja ao futuro desgoverno de Zé Sarney, o Bengalinha.

Pelo que sei da história do sacrificado dominicano Tito - personagem do livro “Batismo de Sangue”, de “frei” Beto (vai com um “t” só, pois, no seu caso, dois é demais) - ele representa o típico caso do inocente útil manipulado pelas mãos de comunistas delirantes, tipo Carlos Marighella, que tinha por objetivo erguer no Brasil, sob a bandeira da “defesa das liberdades”, um governo totalitário semelhante ao implantado por Fidel Castro em Cuba. O caso de Tito é, nas devidas proporções, o mesmo do camponês paraibano João Pedro Teixeira, assassinado e, depois, feito mártir pelos comunistas que incensavam no seu limitado ouvido, dia e noite, a cantilena da revolução agrária tendo ele, João Pedro, como “líder histórico” da empreitada.

(No meu entendimento, acho o que os militares têm a sua parcela de culpa neste processo de lavagem cerebral posto em marcha, a todo vapor, pelo cinema da Era Lula: foram eles que, com a criação da Embrafilme, estatizaram a atividade cinematográfica e, pior que isso, não fizeram da empresa cinematográfica um órgão de denúncia contra a ação contínua da máquina esquerdista - nacional e internacional - sempre envolta em sangue, conchavos, falsificações e mentiras. Pelo contrário: permitiram que a empresa, tendo a frente tipos como Celso Amorim, “O Vermelho”, produzisse filmes contra eles próprios).

O mundo preconizado por “frei” Beto, o guia espiritual de Lula e similares, está ai diante dos olhos de todos. Em vez de paz e justiça, prevalece nele a maior soma de patifarias, injustiças e violências jamais vividas em qualquer governo “burguês” da nossa história. O próprio “frei” Beto - hoje da “classe dominante” e então assessor direto de Lula da Silva, com sala anexa ao “companheiro” Presidente - foi testemunha omissa da imolação de José Antonio, o ajudante de pedreiro que depois de uma semana de amargura ateou álcool no próprio corpo, como ato de repúdio ao descaso geral, diante do palácio do planalto ocupado pelos petistas e esquerdistas das mais diversas tendências e tonalidades.

Um fato, no entanto, é consolador em meio da mistificação geral produzida pelo cinema “engajado”: à proporção que os orçamentos de tais filmes aumentam de forma galopante, o público volta-lhe às costas. Em geral, são exibidos para um pequeno gueto de “iniciados” e sequer conseguem pagar as cópias.
(Vai ver que é por isso que o preço da gasolina da Petrobras, cada vez mais misturada, só faz subir).


terça-feira, 24 de abril de 2007

PT AVANÇA DE FORMA GRADUAL. AGORA É A “DISTENSÃO POLÍTICA”


por Aluízio Amorim


Lula aprendeu bem com o já falecido general Golbery. Fala agora de "distensão política". Cáspite! Esse papo a gente ouvia durante a ditadura militar, enquanto a oposição era torturada nos calabouços do regime.O general Geisel, então ditador, assessorado por Golbery passou a defender uma “distensão política lenta e gradual”, um eufemismo para designar uma estratégia capaz de livrar torturadores e trambiqueiros do regime das malhas da lei.A ditadura do PT é asséptica. Não precisa de porões e pau-de-arara. Até porque não existe mesmo oposição. A Câmara Federal é uma extensão do executivo e palco de sórdidas tramóias que começaram com o mensalão terminando pelo impedimento da constituição da CPI do Apagão Aéreo que abriria a caixa preta da Infraero.



O ridículo aceno de “distensão” formulado por Lula, note bem, coincide com a “Operação Furacão” da Polícia Federal. É elogiável a ação saneadora da PF. Nada contra, evidentemente, que sejam apanhados os malfeitores ainda que dentre eles estejam os mais altos dignitários da Justiça. Ocorre que a execração pública de autoridades acusadas de falcatruas é ardilosamente utilizada por Lula(foto com Berzoini) e seus sequazes, que com ela aplicam uma lavagem cerebral da opinião pública. Os crimes escandalosos praticados pelo governo do PT ao longo do primeiro mandato foram empurrados para baixo do tapete sob a complacência da oposição. Na atualidade já soam como sequer tivessem ocorrido. E, se a vaga lembrança dos escândalos do valerioduto, do dossiê fajuto, das malas e cuecas cheias de dólares ainda possa habitar a mente dos cidadãos, evapora-se ante a espetaculosa ação da polícia federal. Houve até a cena da dinheirama que estava emparedada num escritório de um figurão. Tudo devidamente filmado e passado na televisão.A distensão proposta por Lula é mais um passo cuidadosamente dado pelo PT que nunca, em toda a sua existência, deu algum ponto sem nó ou uma pernada em falso.



Nada é gratuito, de boa vontade, feito com sinceridade e, muito menos, guarda qualquer compromisso com a democracia. Pelo contrário, tudo obedece a uma única e indeclinável intenção: o poder para sempre! A grande arma PT, na consecução de sua estratégia de poder, é a política de terra arrasada, a qual concorre para a degenerescência moral da Nação. Práticas de corrupção e desonestidade existem em qualquer lugar do planeta. Claro, a história do Brasil passada e presente é farta em narrativas de armações, trambiques e arranjos escabrosos.Entretanto, em quatro anos de mandato o PT jogou a pá de cal sobre o que ainda restava da esperança e do orgulho nacional. Conseguiu alinhar no mesmo plano do lamaçal da imoralidade todos os poderes da República, incluindo setores da própria Justiça, porque institucionalizou a desordem. E assim sendo, quem há de temer a lei?Instar a oposição a assumir o seu papel é pregar no deserto, porque todas as exceções se transformaram nas regras do processo político botocudo. O infalível jeitinho brasileiro acaba prevalecendo. Tudo é resolvido em conventículos. Tudo é solucionado por uma oportunística “distensão política". A menos que os próceres políticos desta republiqueta desejem uma nova “Operação Furacão”, não é mesmo?


http://oquepensaaluizio.zip.net

O IMPÉRIO DO MAL


por Ipojuca Pontes


“A mentira revolucionária não é mentira” – Vladimir Lênin O Brasil, mais rápido do que se imagina, está se transformando no Império do Mal. Em muitos aspectos já é, embora, o mais das vezes, o Maligno se apresente como a própria manifestação do bem, da virtude, da probidade e da honra. Sim, é sabido: uma das características do mal é justamente a de se encobrir com o manto da virtude - e o próprio demônio, antes de arrojar-se nas profundas dos infernos, passava por anjo rebelde. Mas, no caso brasileiro, o predomínio da maldade pouco falta para atingir o plano do Absoluto. Tome-se como parâmetro, por exemplo, a nossa vida pública (“extensão da privada”, como queria o Barão de Itararé).



Nela são hoje cultuados, com obstinação selvagem, os sete pecados capitais da maldade política, a saber: a mentira, o nepotismo, o estelionato (também eleitoral), a felonia, a pusilanimidade, a desfaçatez e a demagogia. Sim, amigos, eis o fato inquestionável: não se dá mais um passo na vida pública nacional, nos palácios, gabinetes, ministérios e repartições, nos púlpitos, sindicatos e parlamentos, nas cátedras, palcos e telas, sem que não se dê de cara com a dissolução dos assim chamados “homens públicos” – em geral, tidos por eles mesmos como agentes da “justiça social”. O florentino Maquiavel deixou a entender que a política real é uma atividade alheia à moralidade comum. Por extensão, os parâmetros que guiam a ética entre os políticos só estariam comprometidos com o utilitarismo, o pragmatismo, a conquista e a manutenção do poder. Parafraseando Dostoiévisky, pode se dizer que se o existe o político profissional, tudo é permitido. Já no seu “Diário de um escritor” o gigante russo não deixou por menos: “O político mais esperto tem sempre um pacto com a maldade que o leva, mais cedo ou mais tarde, à tirania”. De todos os sete pecados que norteiam a vida política cabocla o que se apresenta como o mais nocivo, desde logo, é a mentira. Ela é quase uma religião, fonte de fé, esperança e felicidade. Se o amigo não tem vocação nem sabe mentir com esmero, por favor, não ingresse na política, pois, para o êxito de um político a mentira deve ser um estado natural, como o ato de dormir ou respirar. De fato, para ser bem-sucedido, ele deve mentir a respeito de tudo e de todos até quando diz a verdade. E, o que é mais doentio: deve acreditar piamente na mentira que constrói, fingindo, por sua vez, aceitar como verdade a mentira dos pares. De ordinário, quanto mais próximo do poder absoluto, mais mentiroso torna-se o político profissional, invariavelmente um fanático cultor da grande mentira – a Mentira Utópica.



Sim, pode-se dizer que mentir é próprio da condição humana e raros são os que conseguem escapar de sua prática ou uso, ainda que episódico. Há, sem dúvida, a vigência da mentira necessária, socialmente útil, que diverte e afaga, em suma, o exercício da mentira como convenção (“Muito prazer em conhecê-lo”, por vezes, é uma delas). Mas o fato é que a força da mentira na vida pública brasileira atingiu, nos últimos tempos, proporções avassaladoras. Convém aqui salientar que não se trata apenas de entender a mentira como um vício capital, quem sabe ingrediente necessário ao eterno banquete da arena política. De modo algum. Na verdade, a mentira é a própria essência da vida pública nacional, de uso consciente e premeditado, uma espécie de tara que contamina toda a nação e que está a transformá-la num vasto e tenebroso império – o Império do Mal. Veja-se, por exemplo, o caso da crise do apagão aéreo. Tudo começou em setembro de 2006 com a colisão do Boeing da Gol( foto dos destroços) com o jato Legacy, que ceifou 154 vidas. Uma vez recusada a presença dos familiares das vítimas no Planalto, tratou-se de prender, por imperícia, os dois pilotos americanos que escaparam do desastre. Trinta dias depois da colisão, sempre se sonegando a verdade, começou a onda interminável de atrasos e cancelamentos de vôos, sob a alegação de que o sistema do tráfico aéreo estava obsoleto. Milhares e milhares de passageiros foram para o buraco, sem nenhuma indenização. O bode expiatório apontado desta feita foi a ganância das companhias aéreas, acusadas de fomentarem o “overbooking” legalizado – sem que a crise, no entanto, fosse debelada.Então, instalou-se o caos. O inepto Waldir Pires, ministro da Defesa do corporativismo sindical, saudoso da revolta dos sargentos nos tempos de Jango (de quem foi Consultor Geral), sob pressão e passando por cima da hierarquia militar, admitiu em reunião privada com os sargentos controladores a possibilidade de desmilitarizar o controle do tráfico aéreo, uma “resolução” previamente maquinada pelos mentores do motim.



Enquanto uma comissão criada pelo governo tratava de “amarrar o acordo”, a crise nos aeroportos atingia cerca de 350 mil passageiros que não conseguiam embarcar, todos indignados ou dormindo pelos cantos. Sempre atrasada, a comissão da Anac tornou público relatório que apontava a desmilitarização do controle do tráfego como solução para o apagão aéreo. Lula, em pronunciamento demagógico, exigiu “dia e hora” para a crise ser resolvida. Três dias depois, como resposta, os controladores militares rebelados pararam o país, ocasionando o maior caos aéreo da história tupiniquim. O sargento Edileuzo, um dos mentores do amotinamento, simplesmente pôs em execução o recurso da sabotagem, prática apontada por Lênin como fundamental para se “atingir os fins propostos”. O que se esconde por trás disso tudo? O seguinte: os sargentos amotinados, instrumentalizados pelo trotskismo em marcha, querem a estatização civil do controle aéreo e da aviação comercial no Brasil, sob o pretexto de que o capitalismo é selvagem e precisa ser detido. O começo de tudo é a desmilitarização do controle do tráfico, uma espécie de “Potemkim” aéreo, para desmontar em definitivo o que resta de poder nas Forças Armadas.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Operação Têmis: Suspeita sobre juízes começou no mensalão


Folha de S. Paulo


O primeiro sinal de que havia corrupção e venda de sentenças no Judiciário Federal em São Paulo surgiu em 2005, nas investigações do mensalão -o esquema de financiamento a parlamentares do PT e da base aliada denunciado pelo deputado Roberto Jefferson(foto) PTB. Um dos acusados beneficiado com acordo de delação premiada -cujo nome é mantido em segredo- confessou, na PGR (Procuradoria Geral da República), em Brasília, que fizera a intermediação de pagamentos ao juiz federal Manoel Álvares, em 2004.No período em que substituiu Roberto Haddad no Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo, Álvares trabalhou com a mesma equipe do desembargador afastado. Em agosto de 2006, deixou o cargo (Haddad somente viria a reassumir o cargo em janeiro deste ano). Álvares sofreu um infarto, foi hospitalizado e tirou férias.Aquele depoimento feito em Brasília foi enviado pela PGR ao TRF-3. Foi aberto um inquérito sigiloso, inicialmente relatado pelo desembargador Carlos Muta e conduzido, depois, pelo então vice-presidente da corte, desembargador Baptista Pereira.Em meados de agosto de 2006, Baptista Pereira deferiu pedidos de diligências do MPF (Ministério Público Federal). Foi autorizada a interceptação de telefonemas e a oitiva de pessoas. Nesses depoimentos, surgiram os relatos de transações envolvendo outros juízes de primeiro grau.Segunda pernaNum segundo momento, a Procuradoria da República, em São Paulo, recebeu correspondência anônima, que anexava nota fiscal de valor elevado emitido por uma empresa fantasma. As investigações indicaram que o documento se destinava a dar cobertura a pagamento de uma suposta propina à desembargadora Alda Maria Basto Caminha Ansaldi, do TRF-3, relativa a uma decisão também na esfera tributária.A nota fiscal, emitida a título de prestação de serviço, era da própria tomadora do serviço. O MPF requereu, então, à Receita Federal a instauração de procedimento para apurar a simulação.



Foram identificadas outras notas irregulares.Como a desembargadora tem direito a foro especial, o inquérito subiu para a Procuradoria Geral da República, em Brasília, passando a tramitar no STJ (Superior Tribunal de Justiça).As interceptações telefônicas no inquérito instaurado pelo TRF-3 revelaram que o escritório de Luiz Eduardo Pardo havia feito a intermediação tanto das decisões que envolviam a desembargadora Alda Basto quanto as proferidas pelo juiz Manoel Álvares, reveladas em Brasília com a delação premiada. O MPF vislumbrou, então, uma organização criminosa atuando na Justiça Federal.Mesma organizaçãoO ministro Felix Fischer aceitou a manifestação do MPF, que sustentou haver conexão entre os fatos apurados envolvendo o juiz Manoel Álvares e a desembargadora Alda Basto. Ou seja, o inquérito passou a apurar a suspeita de que se tratava de uma mesma organização criminosa.O retorno de Haddad às atividades como juiz foi marcado por discrição. O fato não foi noticiado nem pelo STF nem pelo tribunal federal em São Paulo. Consultado, o TRF-3 não informou o número da portaria que formalizou sua recondução. O envolvimento dele na Operação Têmis despertará a atenção sobre o julgamento de habeas corpus, no Supremo, que permitiu o reingresso do desembargador. O MPF tenta reverter a decisão. Haddad havia sido afastado em 2003, por decisão unânime do STJ, acusado de falsificar documentos para ocultar a sonegação de impostos.

CONVENCENDO PAULO MOURA


Por Augusto de Franco


Dou continuidade à instrutiva polêmica iniciada neste site com o cientista político Paulo Moura. Para quem não acompanhou o debate até aqui, faço um pequeno histórico. No dia 4 de abril publiquei um artigo intitulado "Um governo fraco". No dia 15 de abril, Paulo Moura teceu bons comentários sobre esse primeiro artigo no texto "Estamos fritos, Augusto", concordando basicamente com meus argumentos e avançando outros para concluir que "o PT estará no poder por longo tempo". Repliquei um dia depois com o artigo "O desafio que temos pela frente: resposta a Paulo Moura". Paulo treplicou na última quinta-feira (19/04) com o artigo "Augusto de Franco e a luz no fim do túnel". Bom, foi aí que começou propriamente a polêmica. Paulo diz que está "disposto a ser convencido" seu eu lhe "conceder o prazer de prosseguir na polêmica". Sim, não apenas concedo – o prazer é meu – como acredito, pelo pouco que conheço de suas idéias e de sua postura, que ele será convencido. O QUE NÃO ESTÁ EM DEBATE: Não está em debate, como o próprio Paulo corretamente aponta, "a caracterização do quadro nacional, as críticas à oposição e as ameaças à democracia e à liberdade perpetradas pelos neopopulistas no poder". Nisso tudo, felizmente, estamos de acordo. E já não é pouco. AFASTANDO OS EQUÍVOCOSTambém é bom retirar do debate os equívocos originados por incorreta interpretação (de Paulo) e/ou por deficiências da exposição (de Augusto). O primeiro equívoco é confundir 'redes digitais' com 'redes sociais'. Rima, mas não é a mesma coisa. No meu último artigo não estava falando da Internet. Aliás, mesmo se quisesse falar de tecnologia digital, não precisaria falar da rede mundial de computadores. Bastaria falar do telefone celular. A base de celulares no Brasil atingiu 102 milhões de unidades em março, o que representa um avanço de quase 1 milhão de unidades sobre fevereiro. A continuar nesse ritmo – e vai – poderemos ter mais celulares do que habitantes antes do final de 2010. Mesmo hoje não se pode dizer que a sociedade brasileira está "desplugada": não está, na medida em que temos em média mais de 1 celular para cada 2 habitantes. A conexão não tem a ver com o acesso ao computador, nem mesmo com a capacidade de ler e escrever. Redes são sistemas de conexões. Se quisermos uma boa (e precisa) definição, lá vai: 'redes são múltiplos caminhos'. Ora, existem redes sociais desde que existe a sociedade humana: o que varia é a topologia, ou seja, o grau de distribuição dessas redes. E o fenômeno contemporâneo mais significativo, da possibilidade de conexão em tempo real (ou sem-distância) que acelerou a emergência de uma nova fenomenologia social, atípica e inédita, tanto pode ser viabilizado pelo e-mail e pela blogosfera, quanto pela telefonia celular. O fenômeno recente da eleição de Zapatero, por exemplo, que virou uma eleição considerada ganha pelo partido de Aznar, em 48 horas, teve muito mais a ver com um swarming civil provocado por "torpedos" celulares do que por e-mails e notícias em sites e blogs. Mas mesmo em termos do acesso a Internet via computador, o Brasil já tem 32,1 milhões de usuários. Ou seja, quase 20% da população brasileira – praticamente, em média, uma pessoa em cada domicílio ou local de estudo ou de convivência ou de lazer – está conectada via computador. Como cada pessoa – por efeito de um fenômeno chamado clustering na rede social (atenção, novamente: não me refiro à rede digital, e sim à rede social mesmo) – tem relação próxima e recorrente com, pelo menos, outras dez pessoas, é impossível, a não ser em regiões muito distantes ou deprimidas da Amazônia, do Vale do Jequitinhonha ou de outros bolsões no chamado polígono das secas, que uma população local se encontre isolada, desconectada ou "desplugada" (em termos sociais). Esse quadro tende a mudar rapidamente como resultado da convergência de tecnologias no telefone celular e aqueles 60% da nossa população que já estão conectados via celular poderão em breve navegar e, inclusive, publicar, se quiserem, na Internet, sem precisar de computador para nada e – o que é mais relevante – praticamente sem custo.



O segundo equívoco que devemos liminarmente afastar para não atrapalhar o debate é imaginar que estou propondo "um negócio quase anárquico, sem governo, uma sociedade governada por plugados desorganizados". Se passei tal impressão, perdão: me expressei mal. Não propus nada disso. Não quis dizer, apenas, que o modo de fazer política – e inclusive de fazer oposição democrática – nas circunstâncias do Brasil atual não pode ser o mesmo que praticávamos em tempos passados. Isso, aliás, chega a ser meio óbvio. PSDB e PFL não têm a menor condição de disputar com o PT(foto) bases organizadas segundo um padrão tradicional, top down, de organização corporativa, reivindicativa, reativa, setorial (composta por movimentos sociais, sindicatos, centrais, associações profissionais e ONGs, os quais, em mais de 80%, não por acaso, fizeram a campanha de Lula ou votaram nele 8 vezes seguidas nas últimas eleições). Por isso falei (o óbvio) que as oposições deveriam se dirigir à sociedade desorganizada (que, como vimos acima, não é tão desplugada como avalia Paulo Moura). O que quis dizer – pelo visto sem me fazer entender – e que é o sistema político tradicional (e não o acesso aos meios tecnológicos ou a chamada exclusão digital) que impede o livre funcionamento da rede social. No fundo, esse equívoco está relacionado com o anterior (que confunde 'rede digital' com 'rede social'). Não são as mudanças tecnológicas (e Castells já gastou um tempo precioso nos explicando tudo isso, tim-tim por tim-tim) que produzem a mudança social em curso na contemporaneidade. E sim exatamente o contrário. As pessoas que desenharam o formato das novas TICs – e que inventaram a Internet, inclusive – só as conceberam dessa forma interativa, libertária e praticamente imune ao controle exercido por uma instância vertical de poder, porquanto souberam captar novas possibilidades sociais de efetivar mecanismos desse tipo. O QUE ESTÁ EM DEBATEAfastados os equívocos, duas coisas restam substantivamente no debate: 1) a natureza da transição em curso (bem como o seu ritmo e as tendências que projeta); 2) o que podemos fazer agora (que conterá minha "receita" final para convencer Paulo Moura). Passemos, de pronto, ao primeiro tema. Está ou não está havendo uma mudança social objetiva na contemporaneidade? Parece óbvio que a sociedade está mudando e que a nossa visão sobre ela também. Pode-se olhar essas mudanças como partes de um mesmo movimento: se uma nova ordem de fenômenos não estivesse se manifestando, não nos esforçaríamos para tentar analisá-los. Em contrapartida, se não tivéssemos desenvolvido novas maneiras de perceber e compreender os fenômenos sociais, não seríamos capazes nem de notar as mudanças que estão em curso. Mas não parece correto afirmar que a sociedade está mudando porque está mudando a nossa visão sobre ela. Em suma, há uma mudança social objetiva acontecendo no mundo contemporâneo. Sobretudo nas últimas décadas, a grande mudança é o aparecimento da chamada sociedade-rede, da qual o cidadão está emergindo como ator de uma maneira que antes não seria possível. O indivíduo que se transforma no cidadão conectado de uma sociedade civil que não mais se organiza apenas a partir de esquemas verticais de representação, está submetido a um novo fluxo de informações e conhecimentos – ele mesmo é um entroncamento, uma encruzilhada-nodo desses fluxos – mais velozes e densos do que jamais foi possível. A questão que se coloca é se isso não representaria uma volta ao individualismo (egoísta), um retrocesso em relação às formas anteriores de participação social (altruísta). Tudo indica que não: o cidadão que assume um papel de maior protagonismo na nova sociedade civil que está emergindo não é o clássico indivíduo do liberalismo e sim o novo cidadão conectado a múltiplas redes sociais e que, não raro, participa de novas comunidades de prática, de aprendizagem e de projeto. Essa nova sociedade civil que se desenha no mundo e no Brasil nos últimos vinte ou vinte e cinco anos devolve um papel maior ao cidadão que pensa com a sua própria cabeça, desorganizado do ponto de vista corporativo e partidário, porém mais conectado e mais informado. Isso significa que está havendo uma transição importante, daquele tipo de sociedade civil, composta por algumas organizações representativas de defesa de interesses ou mais ou menos alinhadas a ideários político-ideológicos, para um outro tipo de sociedade civil, composta por cidadãos mais independentes e autônomos, que participam como indivíduos do debate público e de iniciativas cidadãs voluntárias.


O indivíduo é encorajado a assumir um novo papel pelo fato de estar imerso em um novo ambiente interativo no qual pode ouvir a voz dos outros e fazer ouvir a sua voz. Ele é empoderado pelas redes sociais das quais participa mesmo quando não tem consciência da sua existência e não conhece suficientemente a estrutura e o funcionamento dessas redes. Mesmo que o cidadão ainda dependa, em grande parte, das organizações tradicionais para exercer um papel político institucional na sociedade e mesmo que nenhuma sociedade civil possa subsistir sem essas formas de organização mais estáveis que a estruturam, isso não significa que não estejam surgindo – com uma velocidade espantosa – novas formas organizativas articuladas em rede. Tudo indica que uma compreensão mais profunda das redes sociais acabará por tornar obsoleto o próprio conceito de sociedade civil. Não que não exista uma esfera da realidade social ou um tipo de agenciamento diferente do Estado e do mercado que mereça ser considerado, mas o que queremos dizer com o termo sociedade civil não dá mais conta de expressar adequadamente a natureza e o funcionamento da rede social. Confundindo sempre (talvez por culpa minha) 'rede social' com 'rede digital' (ou seja, mudança social com mudança tecnológica), Paulo Moura argumenta – como se fosse uma evidência – que "os profissionais do poder já têm meios de controlar a rede, de grampear e-mails, de destruir nossa imagem e reputação etc." Desculpe-me, caro Paulo, mas isso é rigorosamente falso. Não é possível controlar as redes digitais, sobretudo aquelas que conectam pessoas com pessoas ( P2P); na verdade, é impossível controlar inclusive a Internet (que ainda tem a topologia de uma rede descentralizada – quer dizer, multi-centralizada em um número limitado de provedores – e não distribuída), embora essa discussão seja lateral na medida em que estou falando das redes sociais e não das redes digitais. Todavia, sem querer Paulo teria razão ao dizer que as redes – se estivesse falando das sociais – podem ser controladas. Com efeito.


E esse controle é exercido (como ele próprio diz, "do mesmo jeito desde a Grécia Clássica, ou antes") pelo... por quem mesmo? Ora, pelo sistema político. Não, porém, pelos ocupantes da vez, pelo caráter do governante ou do seu partido situado no sistema político e sim pela forma como se estrutura e funciona esse sistema, pela sua natureza de mainframe que confere aos que se postam nos seus múltiplos centros ou filtros o poder de obstruir, separar e excluir. Então a nossa questão deve ser colocada nos seguintes termos: podem ser mudadas a morfologia e a dinâmica do sistema político? Ou, em outras palavras, é possível uma nova política? Ou, ainda, é possível reinventar a democracia nas condições do mundo contemporâneo (quero dizer, diante da mudança social em curso na contemporaneidade)? Se considerarmos que não existe uma mudança social em curso, não. E aí não nos resta alternativa senão nos rendermos à realpolitik e dizer que a política é o que é e/ou como sempre foi (desde os gregos, ou antes...). Dewey, com o qual terminei meu último artigo, há quase 70 anos – antes, portanto, de ter consciência da natureza da chamada "revolução tecnológica" do final do século passado – já havia percebido que não existe uma democracia mas um processo de democratização, que só pode ter continuidade se estiver aberto à criatividade e à inovação. Não citei John Dewey por acaso, mas para realçar que a defesa de uma forma particular de democracia – que paralisou o pensamento liberal – não basta, que a única forma de defender (e mesmo manter) a democracia é dando continuidade ao processo de democratização, inventando continuamente novas formas de construção e de verificação da vontade política coletiva. Por isso que Dewey foi o primeiro a reconhecer o caráter radical da democracia, o que significa sustentar a necessidade de radicalização – ou democratização constante – da própria democracia. Em suma, o que disse em meu último artigo foi: a) que, para fazer frente às ameaças que pairam contra a democracia (sobretudo a ameaça contemporânea do neopopulismo), é necessária uma nova política (e não apenas uma reciclagem da velha política, com a troca dos atores que ocupam seus postos principais); b) que só é possível defender a democracia e, ao mesmo tempo, contribuir para a emergência de uma nova política, por meio da democratização, ou seja, de mais-democracia; c) que tal esforço está coimplicado no esforço de aumentar o grau de distribuição das redes sociais (e não na aposta no padrão organizativo centralizado ou multicentralizado dos chamamos movimentos sociais, corporações, sindicatos, associações ou outras formas tradicionais de arrebanhamento de seguidores), o que significa enfocar e valorizar o cidadão desorganizado e conectado que compõe o imenso contingente da nova sociedade civil emergente neste dealbar do século 21. Passemos pois, para concluir, ao segundo tema: o que podemos fazer agora.MINHA "RECEITA" PARA CONVENCER PAULO MOURAPaulo Moura, quer ser convencido de que "é possível enfrentar essa gente sem disputar o poder de Estado, com candidatos alternativos e na TV de massas". Ele admite que, "no futuro pode até ser, hoje não". E argumenta: "para me convencer que a luta pelo poder pode ser diferente do que tem sido ao longo de toda a história da nossa civilização, Augusto, você vai ter que me convencer de que é possível uma sociedade sem governo e sem Estado". Creio que basta convencê-lo de que a política pode ser diferente do que (se diz que) sempre foi, sem cair no exagero de tentar sustentar a possibilidade de uma "sociedade sem governo e sem Estado". Até porque tivemos até agora - desde a 'Cidade-Estado-Templo' sumeriana até o 'Estado-nação' atual - umas cinco formas de Estado diferentes e, em todas elas, tivemos modos diferentes de fazer política. Certamente a última forma, o Estado-nação, não perdurará eternamente. Uma sociedade-rede vai forçar – mais cedo do que se pensa – o surgimento de uma espécie de "Estado-rede" como propôs Castells, mas esse não é o nosso assunto principal agora e sim de que maneira podemos contribuir para a emergência de uma nova política, cada vez mais democratizada. Se Paulo Moura me pedisse uma "receita" sobre o que fazer, a partir de agora, para reinventar a política a partir da emergência das novas formas de participação dos cidadãos, diria o seguinte: EM PRIMEIRO LUGAR não abrir mão da defesa da democracia realmente existente e das instituições do Estado de direito, não deixar de participar da vida política do país e da localidade onde vivemos e não desistir de lutar pela democratização do velho sistema político. Sei que Paulo concordará com esse primeiro ingrediente e não vou perder muito tempo tentando justificá-lo.


A democracia que temos é condição necessária (embora não suficiente, reafirmo) para alcançar a democracia que queremos. Em outras palavras, é impossível democratizar a democracia em autocracias, mas apenas no interior de regimes formalmente democráticos e essa é a grande contribuição da tradição liberal. Tudo isso implica vigilância democrática, resistência democrática e, também, luta democrática nos termos em que está colocada a disputa (apresentando candidatos com condições de se postar contra o neopopulismo e blá-blá-blá). EM SEGUNDO LUGAR, experimentar e disseminar inovações políticas que já podem ser ensaiadas em pequena escala, sobretudo na forma de pactos pela democracia local capazes de viger em redes comunitárias e setoriais de desenvolvimento. Qualquer pessoa inteligente é capaz de concluir, sem grande dificuldade, que o atual sistema político não mudará a partir dos esforços feitos apenas no seu interior. É necessário exercer uma pressão "ambiental", de fora para dentro. Ademais, é necessário introduzir na cena pública, de baixo para cima, novos atores políticos com a experimentação de novas formas de participação dos cidadãos: ensaiando e disseminando inovações políticas, articulando e animando redes cada vez mais distribuídas e capacitando uma nova geração de agentes convencidos da democracia como valor e dispostos a encarar o desafio de reinventar a política. Essa proposta de mega-reforma, obviamente, só é possível, nas condições atuais, em pequena escala, em localidades. Não é por acaso que em comunidades de projeto – articuladas em rede – estão ocorrendo as mais notáveis inovações políticas democratizantes da atualidade. Haveria muito mais o que dizer sobre esse tópico, mas o espaço deste artigo não permite. EM TERCEIRO LUGAR, articular e animar redes (netweaving ) – conectando pessoas-com-pessoas, com o grau máximo de topologia distribuída que for possível alcançar – independentemente do objetivo dessas redes.Não estou falando, repito pela terceira ou quarta vez, de 'redes digitais' e sim de 'redes sociais'. Seria zombar de nossa inteligência acreditar que podemos reduzir tudo isso a algum tipo de "guerrilha na rede" (pelo computador) ou "ficar sem candidatos e disparando spam", como – acredito – brincou Paulo Moura. Trata-se de abrir mão de replicar formas organizativas piramidais, verticais, baseadas no fluxo comando-execução. Ou seja, ao invés de engordar a velha burocracia corporativo-partidária e a nova burocracia associacionista (das ONGs, inclusive), apostar nas redes de pessoas, que conectem os tais 'cidadãos-desorganizados', uns com os outros, em prol de objetivos comuns, expandindo uma nova esfera pública não-estatal. Trata-se de mostrar, na prática, que o cidadão pode, sim, fazer política pública, que a sociedade pode tomar iniciativas coletivas, aumentando o seu protagonismo e o seu empreendedorismo. Não estou falando de coisas ideais, irrealizáveis, e sim de mudar a forma como nos comportamos política e administrativamente em termos orgânicos.


Estou falando de mudar a matriz de projetos, programas e ações governamentais e não-governamentais em todos os níveis. Tudo ou quase tudo que organizamos atualmente a partir do padrão-mainframe, pode ser reorganizado segundo um padrão-network, desde um programa de alfabetização de jovens até uma organização política. Podemos fazer isso sem computador e, inclusive, sem um único e miserável telefone celular. Já existe o telefone fixo, já existe o Correio e já existe – há alguns milhões de anos – a possibilidade de diálogo em um encontro presencial. Insisto: não é o meio tecnológico que faz o "milagre" e sim o modo de conexão e o grau de conectividade. Até com sinais de fumaça é possível democratizar procedimentos, ampliar a freqüência e a base de consultas de opinião, incorporar pessoas como sujeitos e transformar público-alvo e beneficiários em participantes voluntários. Se não o fazemos não é por efeito de qualquer "exclusão digital" e sim por força de uma cultura política e organizativa autoritária, hierárquica, sacerdotal e, em grande parte, autocrática. EM QUARTO LUGAR, contribuir para expandir a blogosfera, quer inaugurando nosso próprio blog, quer ajudando outras pessoas a adquirirem essa efetiva condição de inclusão digital, quer criando ambientes interativos e programas que sirvam para agregar blogs por temas de interesse. Vejam que somente aqui falei de rede digital. E vou explicar por que. Em abril de 2006, o relatório do Technorati – "S tate of the Blogosphere" – já dava conta de 37,3 milhões de blogs, dobrando de tamanho a cada 6 meses. A blogosfera já era então 60 vezes maior do que há 3 anos. Um novo blog era criado a cada segundo, todo dia. E, nesses blogs, 50 mil novas postagens eram feitas a cada hora. Em outubro do mesmo ano, já eram mais de 57 milhões de blogs, and counting... 100 mil blogs eram criados a cada dia e o conjunto dobrava de tamanho a cada 230 dias. Quais serão as conseqüências políticas da emergência da blogosfera?A chamada blogosfera – o conjunto crescentemente interconectado de todos os blogs: abreviatura de weblogs, sistemas de publicação de conteúdos na web que segue a estrutura post- link-comentário – constitui realmente, como observou o ciberativista David de Ugarte no ano passado, "o primeiro grande meio de comunicação distribuído da história, no qual desaparece de fato a capacidade de filtro: eliminar ou filtrar um nodo ou um conjunto de nodos não impedirá o acesso à informação. Ao contrário do sistema informativo descentralizado nascido do telégrafo, é impossível derrubar pontes [obstruir caminhos] e controlar a informação que chega aos nodos finais mediante o controle sobre alguns emissores... [Com a blogosfera] as mudanças na estrutura da esfera informativa colocam em xeque o sistema de representação política... Sob a emergência das redes distribuídas se desenha uma nova perspectiva social e política: um mundo de fronteiras esfumaçadas, sem mediadores profissionalizados e "necessários", sem elites filtradoras "insubstituíveis". A blogosfera avança características do que serão as novas formas de organização política..." (cf. http://www.deugarte.com/gomi/el_poder_de_las_redes.pdf).


Diz-se que tais previsões (e hoje já são quase constatações) entram em conflito com a realidade da exclusão digital de bilhões de seres humanos. Assim, a taxa de crescimento dos blogs verificada até agora decrescerá por força do limite imposto pelas condições econômicas e culturais dos usuários; logo, as conseqüências políticas da emergência da blogosfera só se farão sentir em um futuro muito distante. Mas será? Não bastaria que uma porcentagem significativa da população estivesse conectada na blogosfera para que o efeito desse ambiente informativo distribuído se fizesse sentir no conjunto da sociedade? (Um blogueiro em cada conjunto de cinqüenta residências – uma pequena quadra urbana – significa 24 milhões de blogs: ora, já ultrapassamos o dobro desse valor). Além disso, mesmo que a blogosfera não chegue a abarcar a maior parte da população, ela continuará crescendo – como já assinalei – com a convergência de tecnologias de informação e comunicação no telefone celular, que incorporará programas de e-mail e do qual se poderá operar blogs conectados a outros blogs, ou seja, ter acesso à blogosfera, sem computador inclusive. As conseqüências políticas do crescimento da blogosfera são difíceis de se prever agora. No entanto, como parece óbvio, a principal delas será a transformação do sistema de representação, isto é, de delegação de poder, tal como hoje se configura, abrindo caminho para novas formas de democracia. EM QUINTO LUGAR, multiplicar as oportunidades e ampliar os processos de educação e de capacitação política baseados na democracia. Sim, sobre isso imagino que temos também amplo acordo. Não tivemos experiência suficiente de democracia e nem muitas oportunidades de aprender o que é democracia. Nem a chamada direita, nem as esquerdas que lutaram contra as ditaduras getulista ou militar, tiveram aprendizagem de democracia. Como escrevi outro dia (22/03), no artigo "A 'Síndrome' de Chico Buarque", " duas gerações inteiras de brasileiros (ou, se quisermos, três: dos nascidos entre 1945 e 1985 – que já puderam votar em Lula em 2002) aprenderam que era preciso recusar a ditadura mas não aprenderam o que era necessário para construir a democracia. Os que nasceram nas décadas de 1940 e 1950 e entraram na universidade nos anos 60 e 70 foram induzidos a rejeitar o imperialismo norte-americano, a admirar a União Soviética ou a China ou Cuba; mas nada de democracia. Com a queda do Muro de Berlim, os que nasceram no início dos anos 70 e entraram na universidade a partir de 1990, foram "educados" a rejeitar o novo satã chamado neoliberalismo (durante a década de 1990 a academia resolveu fugir do mundo para constituir-se quase exclusivamente como palco de uma nova cruzada ideológica contra o "Consenso de Washington" e contra, é claro, seu suposto representante no Brasil: o governo FHC); mas, igualmente, nada de democracia". Eu mesmo, que combati o regime militar de 1964, não tinha a menor idéia da democracia como valor, nada sabia de seus pressupostos e sequer imaginava as suas relações intrínsecas com os padrões de organização em rede e com as mudanças sociais que hoje interpretamos como desenvolvimento ou sustentabilidade. Se tivéssemos vencido o combate que movemos contra o regime dos generais, provavelmente não teríamos assistido a transição democrática de 1984-89 e estaríamos vivendo hoje em um regime mais autocrático do que o atual.

domingo, 22 de abril de 2007

O perigo de um imbecil comunista convencer outro Brasileiro a lhe seguir


O noticiário está recheado das palavras duras do pilantra(foto) Venezuelano que quer se perpetuar no poder numa ditadura “socialista-comunista” (sistema falido e podre que destruiu a ex-União Soviética), atacando a mídia Brasileira, especialmente as organizações Globo. Setores das igrejas católicas e evangélicas (?), pasmem, estão “cultuando” esse nanico que quer ditar as suas regras para toda a América Latina.Todos sabem do desprezo, vergonha e nojo que tenho do réu-eleito Brasileiro, um sujeito que se ilude, pensando que é um “líder” quando na verdade é apenas “um mito” criado pelas comunidades eclesiais de base da igreja católica, pelos ditos “movimentos sociais” e por parte da própria mídia imbecil que “empesteia” o nosso País. É nessa praga de “jornalistas” de “esquerda” que o PT está apostando suas fichas para alardear as “belezas” do comunismo, do socialismo e, colocando a classe média para trabalhar para sustentar uma penca de vagabundos que ocupam um “nicho social” em que não é mais preciso trabalhar, porque o “estado-pai-comunista” paga à esses filhos bastardos para que esperem a próxima eleição para “retribuir” o sustento através dos votos.Lula é um produto dessa esquerda podre do Brasil, que sequer tem um projeto econômico para a Nação, é um reles ser que só vai ver que chegou a ser presidente por conta de parte de um povo aculturado ou normalmente corrupto, no momento em que for deposto ou pego com a “mão na massa” nas inúmeras falcatruas que a sua trupe produz e que ele, claro, é no mínimo, conivente. No Brasil está faltando justiça, sobrando bandidos, essa turma do Lula no poder está conseguindo corromper e aparelhar tudo neste País. Até quando? Até quando surgir uma oposição de verdade e homens dispostos a empunhar a coragem em favor da sua própria descendência, pois, esse governo que está aí não serve! É podre, inerte, sem moral e perigoso.Caetano, o Veloso, disse algo que precisamos refletir: - Eu quase votei em Lula no segundo turno. Acabei votando no Alckmin. Não pode existir só a CARTA CAPITAL que é a VEJA do Lula. Tem que ter a VEJA também. Diogo Mainard é um moderado se comparado com Paulo Francis [ex-colunista do jornal O Estado de S. Paulo e ex-comentarista da Rede Globo de Televisão] Eu disse mais de uma vez que pensando o que penso e sabendo o que sei, se eu votasse em Lula estaria agindo como um imbecil. Mas respeito quem votou nele....O José Serra tem um projeto para a economia que pensa globalmente a questão do social, do desenvolvimento e da inserção do Brasil na economia mundial. Mas eu nunca vi algo parecido com isso exposto com clareza por Dirceu, Lula ou Palocci. E Hugo Chávez com a idéia de se eternizar no cargo de presidente da Venezuela. E a esquerda brasileira que chegou ao poder sem dispor de um projeto para o país e que de uns tempos para cá resolveu pegar no pé da imprensa acusando-a de ser contra o povo. Está bom ou quer mais? . Mangabeira Unger tem razão ao dizer que o PT despreza a maioria desorganizada do povo.Cara, nós tivemos Fernando Henrique como presidente e depois Lula. Infelizmente, Fernando Henrique inventou a reeleição. E agora que Hugo Chávez inventou reeleição atrás de reeleição, entende? É uma coisa horrenda. E é preciso que se diga em altos brados “Ó praí, ó...” Veja o enorme perigo que existe nisso. Suspender, como ele anunciou que fará, o funcionamento de uma empresa de comunicação, é ruim. E planejar uma permanência indefinida no poder é pior ainda. Eu tenho uma certa raiva da esquerda...Eu disse que defenderia a imprensa brasileira até o fim porque acho que a acusação que a esquerda faz contra ela é perigosíssima. É um absurdo dizer que a imprensa tentou destruir o governo Lula de maneira golpista. Os escândalos que aconteceram, aconteceram. E eles caíram no colo da imprensa. Eu tenho certeza disso. Ser mais simpática e cuidadosa com Lula como a imprensa foi seria igual a Cuba. Seria como ter um só jornal e mesmo assim do governo. Não pode existir só a CARTA CAPITAL que é a VEJA do Lula. Tem que ter a VEJA também. Diogo Mainard é um moderado se comparado com Paulo Francis [ex-colunista do jornal O Estado de S. Paulo].Está aí, Caetano, ao contrário do seu conterrâneo Gilberto Gil, vê no governo Lula, assim, como eu e tantos outros, a “essência da merda”, uma estrada esburacada que vai dar num precipício previsto: Uma ditadura. Dá nojo assistir os noticiários da Band e Record(gentilmente patrocinados por estatais como a Caixa Econômica), fazendo apologia de um governo de “mierda”. Senão, vejamos o que podemos extrair do site Contas Abertas: A educação pode transformar pessoas, atitudes e até um país. Apesar dessa crença e da simpatia que todos nutrem pelo tema, muitas vezes a execução orçamentária não reflete a prioridade que a educação merece ter. O programa orçamentário Desenvolvimento da Educação Infantil (1065), cujo objetivo é ampliar o atendimento de crianças até seis anos de idade, apresentou, em 2006, execução orçamentária ínfima. Segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), do total de R$ 27,9 milhões autorizados, R$ 18,6 milhões (67%) foram empenhados (compromissos para posteriores pagamentos) e somente R$ 6,6 milhões (24%) foram efetivamente pagos.Isso é fácil de conceber uma concepção lógica: O interesse maior de “educar” não é na base de uma boa escola. O PT e Lula quer “encher” as universidades de propagadores das suas ideologias, por isso, o tal do Pro-uni é uma espécie de “menina dos olhos” dessa corja. Prepara-se uma “equipe de asseclas universitários” e “propagandeia-se” que a universidade “é para todos”. Todos, quem? Por enquanto, e enquanto não houver uma boa base na educação fundamental não haverá universidade que forme de verdade no Brasil, pois, os cursos e as inúmeras “universidades” públicas e particulares são apenas, quando não arremedos de formação acadêmica, arapucas onde o alvo é o lucro, a formação, secundária (de fato).Lula, sua perdulária esposa preocupada em manter “um bom guarda roupa” e a quadrilha denunciada pelo Procurador Geral, seguem rindo dos pobres imbecis que lhe deram o voto, da Justiça que insiste em continuar cega para os crimes cometidos por este governo, dos governos estaduais que “prestam apoio”, dos “oposicionistas” frouxos que não tem coragem de mostrar o que é essa pilantragem que se identifica com estrela branca e plumagem vermelha, dos novos (?) congressistas que podem escolher entre ser mensaleiro ou “morrer de fome” olhando o “banquete” dos que aceitam “ser governo”. Arlindo, Aldo ou Fruet? Quem, os congressistas escolherão? De uma coisa eu sei: O perigo de um imbecil comunista convencer outro Brasileiro a lhe seguir é iminente, enquanto uma imprensa pautada por “jornalistas” de “esquerda” continuarem pautando o noticiário à serviço das “correntes” chavistas. Com Aldo ou Arlindo, estamos todos Fruedidos. Tenho dito.


Marcos Matias*

Músico e Radialista

Palavra de vida




Aos “Nabucodonosores”

Este texto bíblico dirigido a Nabucodonosor rei de Babilônia à época do profeta Daniel, explica bem a soberba de alguns líderes, que estão no poder no Brasil hoje, como o apedeuta do planalto, mas serve pra qualquer um que não respeita seus limites e pensa que foi eleito sozinho e não deve nada à ninguém: “Mas quando o seu coração se exaltou, e o seu espírito se endureceu em soberba, foi derrubado do seu trono real, e passou dele a sua glória. E foi tirado dentre os filhos dos homens, e o seu coração foi feito semelhante ao dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses; fizeram-no comer a erva como os bois, e do orvalho do céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que Deus, O Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos homens, e a quem quer constitui sobre ele. E tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que soubeste tudo isto. E te levantaste contra o Senhor do céu, pois foram trazidos à tua presença os vasos da casa dele, e tu, os teus senhores, as tuas mulheres e as tuas concubinas, bebestes vinho neles; além disso, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não vêem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida, e de quem são todos os teus caminhos, a ele não glorificaste. Então dele foi enviada aquela parte da mão, que escreveu este escrito.Este, pois, é o escrito que se escreveu: MENE, MENE, TEQUEL, UFARSIM. Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contou Deus o teu reino, e o acabou.TEQUEL: Pesado foste na balança, e foste achado em falta.PERES: Dividido foi o teu reino, e dado aos medos e aos persas.Então mandou Belsazar que vestissem a Daniel de púrpura, e que lhe pusessem uma cadeia de ouro ao pescoço, e proclamassem a respeito dele que havia de ser o terceiro no governo do seu reino. Naquela noite foi morto Belsazar, rei dos caldeus. E Dario, o medo, ocupou o reino, sendo da idade de sessenta e dois anos.” (Daniel. 20- 31). Está chegando a hora em que o apedeuta do planalto(foto) perderá seu reino.


By: Marcos Matias

Gasto maior do governo Lula deve puxar carga tributária

Folha de S. Paulo

22.04, 16h02
Folha de S. PauloA revisão das contas nacionais pelo IBGE, que "baixou" a carga tributária de 38,8% para 35,2% do PIB (Produto Interno Bruto), reforçou a expectativa de que o governo orientará novas mudanças tributárias para, além de tentar racionalizar o sistema, promover nova rodada de aumento da arrecadação.A razão é óbvia e histórica, segundo especialistas: as despesas do governo continuam em trajetória crescente, mesmo nas previsões oficiais de gastos para os próximos anos.Ao mesmo tempo, uma série de tributos já deu sinais de esgotamento na capacidade de arrecadação.É o caso da CPMF (que, de provisória, já se tornou definitiva), do PIS e do já cadente IPI (ver quadro). Até mesmo o ICMS estaria chegando ao limite, sobrando espaço para um aumento de arrecadação apenas pelo lado da fiscalização.O próprio governo trabalha com expectativa de aumentos na receita para cobrir despesas primárias (não-financeiras) crescentes nos próximos anos -equivalentes a 21,5% do PIB em 2008; 21,8% em 2009; e 22% em 2010, segundo projeções oficiais.Carga tributária dá saltoEntre 1998 e 2002, as despesas correntes do governo federal foram, em média, de R$ 37,5 bilhões/ano (já corrigidos pela inflação). Entre 2003 e 2005, saltaram a R$ 56,6 bilhões/ano.Para cobrir esses gastos maiores, a carga tributária teve de ser aumentada de 27,4% do PIB em 1998 para 35,2% no ano passado. Novos aumentos seriam necessários para cobrir as despesas futuras maiores.O ex-secretário da Receita do governo FHC, Everardo Maciel, afirma que não é possível imaginar uma estabilização da carga tributária no país enquanto as despesas de custeio e vinculadas à área social mantêm tendência de forte alta. "A carga tributária resulta do gasto público", afirma Maciel.Gilberto do Amaral, presidente do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), diz que o resultado da arrecadação do primeiro trimestre do ano já indica novo aumento da carga tributária em 2007 como proporção do PIB.A arrecadação de tributos federais entre janeiro e março subiu 10,16%, descontada a inflação, e atingiu o recorde histórico de R$ 102,7 bilhões. Para que a carga não tenha aumentado no trimestre, calcula Amaral, o PIB entre janeiro e março deveria estar crescendo acima de 6% em termos anualizados."Haverá aumento de carga tributária pela simples razão de o governo continuar gastando mais do que arrecada. A "exaustão" de alguns tributos com potencial arrecadatório vai acabar forçando uma reforma do sistema para arrecadar mais", diz Amaral. "No Brasil, historicamente só há reforma tributária quando a capacidade de arrecadação se esgota."Para Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), é "injustificável" manter a tendência de cobrir mais gastos públicos com mais arrecadação. "Cerca de 35% do PIB de carga já é demais, especialmente no caso do Brasil, onde educação, saúde e previdência de qualidade têm de ser buscados no setor privado", diz.Ricardo Becker, sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados, afirma que, em uma eventual reforma tributária, a própria junção de tributos em um modelo como o IVA (Imposto sobre Valor Agregado) pode resultar em um aumento de alíquotas e da carga tributária.

A UTOPIA REGRESSIVA DO MST


22.04, 11h28

por Orlando TambosiO “Abril Vermelho” do MST segue metodicamente a cartilha traçada pela “Teologia da Libertação”, cuja expressão máxima hoje é Dom Tomás Balduíno, conselheiro da Comissão Pastoral da Terra. Em entrevistas nos últimos anos, o prelado foi delineando claramente o caminho a ser traçado pelos discípulos: invadir terras e centros de pesquisa das diabólicas multinacionais do agronegócio. A tomada da Aracruz Celulose pelo MST e pela Via Campesina, no ano passado, com a destruição de laboratórios de pesquisa, foi o estopim da marcha que prossegue violando a lei em várias regiões do país. O grande inimigo desses movimentos é o eucalipto, esta maldita árvore “neoliberal”.De fato, não há como ignorar o incentivo de setores da Igreja Católica às invasões. Formados na chamada “Teologia da Libertação”, esses setores sempre se apresentaram como "progressistas", mas são, na verdade, reacionários. Sua aversão ao mundo existente evoca a velha contraposição romântica entre Gemeinschaft (comunidade) e Gesellschaft (sociedade): a comunidade é a pequena vila rural, orgânica, lugar da solidariedade familiar, do coletivo e da tradição, enquanto a sociedade é o predomínio do mecânico, o mundo burguês do individualismo e do mercado. O capitalismo corrompe o protegido "mundo comunitário", que cede lugar a um mundo aberto e dinâmico, onde reina a lei da concorrência e do lucro e prevalecem as relações impessoais e utilitaristas. Como Marx viu bem, o capitalismo submete tudo a uma "revolução permanente". Contrária a essa revolução desde a origem (vide Contra-Reforma), a Igreja volta-se ainda hoje, nos países menos desenvolvidos, contra a “invasão do capital” e a conseqüente dissolução de seu mando. No seu ideário, a Gemeinschaft é a velha paróquia, o lugarejo onde o púlpito ditava as regras e a batina simbolizava o poder maior. Sob essa batina pretensamente revolucionária escondeu-se sempre a velha reação à modernidade, a negação da revolução científico-tecnológica, esta sim revolucionária. É certo que, como toda revolução, a tecnológica tanto constrói quanto destrói. Ela está destruindo uma cultura antiga, agrícola, criada há dez mil anos, e compelindo a humanidade a renunciar a técnicas obsoletas e ao patrimônio cultural dos antepassados. Esse conflito praticamente se esgotou em todos os países industrializados, mas ainda gera resistência e protestos, rebeliões e angústia em países em desenvolvimento. É o preço que pagamos pela civilização.EM BUSCA DO CAMPONÊS PERDIDOOra, retornar ao velho mundo agrícola - sem ciência nem tecnologia – implicaria igualmente regredir aos níveis de produção alimentar do passado, e, conseqüentemente, aos valores demográficos do passado. Menos alimento, menos gente. Não há como fugir disso. Por outro lado, a população brasileira urbanizou-se de maneira vertiginosa a partir dos anos 50 do século passado, atingindo hoje mais de 80 por cento. É na cidade que está o "camponês" do MST e da Via Campesina. Quem estaria disposto a voltar ao campo para viver e plantar nas paróquias idealizadas por essa “teologia” apimentada com marxismo de orelha?Não é à toa que o MST procura arrebanhar forças na periferia dos centros urbanos. Sua utopia já não se restringe aos supostos "milhões de sem terra.“ O que João Pedro Stédile e seus comandados querem é o poder, retomando a via revolucionária que a história demonstrou fracassada. Basta lembrar que as três grandes revoluções socialistas do século XX tiveram como desfecho, para além dos milhões de mortos, um “capitalismo selvagem” no caso da China, um “capitalismo mafioso” na Rússia e uma situação de miséria e colapso econômico no caso de Cuba.Apesar das duras lições da história, parece ser este o retrógrado projeto do MST (em parte alimentado por verbas públicas), que vai ganhando fôlego diante da letargia dos poderes da República – particularmente do governo, incluindo os estaduais - e do discreto apoio de setores do PT, do qual é uma espécie de “braço armado”. Quanto às entidades representativas da sociedade, que outrora lutaram pela democracia e pelo Estado de Direito, apenas fazem vistas grossas. O caminho está livre para se buscar o retrocesso.