quarta-feira, 8 de agosto de 2007

A OPOSIÇÃO, AS PESQUISAS E A OPINIÃO PÚBLICA


por Paulo Moura, cientista político


Quatro indicadores políticos importantes emergem da conjuntura, sugerindo a possibilidade latente de alteração do quadro de letargia que se abateu sobre a sociedade brasileira após a reeleição de Lula: a vaia contra Lula no Maracanã; a reação de Lula e seus discípulos a esta vaia; o surgimento de mobilizações de rua contestando o governo; e, os números da pesquisa Datafolha revelando perda de popularidade de Lula entre segmentos de classe média e dos grandes centros urbanos do país.Por quê esses indicadores são importantes?Porque, quando 90 mil pessoas vaiam Lula de forma contínua a ponto de impedi-lo de falar numa cerimônia sem contornos políticos com era a abertura do PAN 2007, isso expressa um sentimento coletivo e espontâneo de rejeição ao presidente.


O fato se reveste de maior significado político, especialmente por ter ocorrido no Rio de Janeiro, estado no qual o então candidato Lula obteve expressiva votação na última eleição presidencial.Lula e o PT sabem disso, tanto é que reagiram ao fato de forma articulada. Ninguém dispõe de mais pesquisas de opinião quantitativas e qualitativas, periódica e regularmente feitas para subsidiar as estratégias de marketing pessoal de Lula e de marketing governamental, do que o Palácio do Planalto. Logo, se o PT sentiu necessidade de carimbar os 90 mil vaiadores de Lula no Maracanã de elitistas e o movimento "Cansei", de golpista, é por saberem que pode estar emergindo uma onda de inversão da situação confortável que o petista desfruta nas pesquisas.


O fato de que essa mudança no clima de opinião, que tem origem na classe média dos pólos modernos do país, esteja ainda, restrito aos círculos de melhor renda e grau de instrução, ao contrário de ser um fator tranqüilizador para Lula, é razão para preocupação, pois é a partir desses círculos sociais que a onda de opinião pode se propagar para outras regiões e segmentos da sociedade.


O que é preciso para que isso se confirme?Duas coisas: mobilização organizada; e um vetor político nítido que galvanize o sentimento de rejeição ao descalabro lulista. Aqui mora o perigo. Por quê?Porque a oposição ao lulismo e ao petismo, na sociedade e nos partidos adversários do PT, não têm instrumentos de organização adequados à tarefa e nem experiência de luta política de oposição para produzir o resultado necessário à corrosão do poder dos corruptos e incompetentes que nos governam.


Boa parte da classe média se compõe de profissionais liberais, pequenos empresários e dirigentes de organizações privadas, que, não obstante a indignação com o descalabro governamental, têm mais o que fazer do que gastar tempo com política. Ou seja, para essa gente estar começando a se mobilizar, é porque a indignação levou-os a crer que agir tornou-se um imperativo de sobrevivência para si mesmos e as gerações futuras. O petismo, que já tinha os sindicatos e o MST como exército remunerado e a serviço de seus objetivos políticos, agora detém o poder de governo com toso os seus recursos e prerrogativas, sustenta uma rede de ONGs e um exército de funcionários de confiança a soldo do Estado, pagos com nossos impostos, para enfrentar adversários desorganizados e inexperientes.Boa parte da "timidez" dos partidos de oposição tem origem no fato de que os adversários do petismo no sistema partidário só sabem fazer política tento o poder de governo na mão, e, quando na oposição, acham que basta discursar na tribuna do parlamento e dar entrevistas à mídia para virar o jogo a seu favor. Não bastasse isso, essa oposição partidária está de rabo preso pelo petismo. Seja porque o PT pegou suas falcatruas do tempo em que eram base de FHC, seja porque posam de oposição na mídia, mas estão comprados por favores do governo, obtidos por baixo dos panos em troca de delicadeza na contestação. Basta ver como aceitam a prorrogação da CPMF e conduzem-se na tramitação dos interesses de Lula no parlamento para comprovar isso.Para esse insipiente sentimento anti-Lula, que surgiu na sociedade após o acidente da TAM, superar as limitações impostas pela dificuldade de organização e a falta de experiência política, seria preciso juntar muita indignação, com organização, mobilização e senso estratégico.


As entidades empresariais deveriam sair da linha de frente para evitar oferecer estribo ao carimbo petista de movimento elitista e golpista contra Lula. A palavra de ordem eficaz para corroer o poder petista é FORA LULA! Todos os porta-vozes desse movimento nacional (?) e os políticos dos partidos de oposição, ao darem entrevistas na mídia sobre quaisquer temas geradores de desgaste para o governo, devem unificar o discurso, organizando as falas dirigidas contra um alvo só: Lula!As causas do acidente da TAM são várias, mas o culpado número um é Lula e sua turma de incompetentes, no ministério, na Infraero e na ANAC. Vazar o conteúdo da caixa preta do Airbus foi um erro, pois contribuiu para a estratégia do governo de dispersar a percepção da opinião pública em torno de uma profusão de causas hipotéticas e não comprovadas, possibilitando a construção da versão de que houve falha do piloto ou problema técnico no avião.


O problema de fundo é a incompetência de Lula. Foi Lula quem nomeou incompetentes e corruptos para gerir o sistema aéreo nacional. Foi Lula quem deixou a Varig quebrar. É Lula quem, mesmo diante de dez meses de caos aéreo, esperou a morte de mais 200 pessoas para, dizer, outra vez, que não sabia que o problema era tão grave e, somente então, demitir seus apaniguados. Foi Lula que acariciou os sargentos controladores amotinados e desautorizou o comandante da Aeronáutica que iria puni-los como manda a Lei. Isso não isenta as companhias aéreas de cumplicidade no assassinato dos passageiros dos acidentes da GOL e da TAM. Mas, uma oposição digna desse nome deve mirar no culpado número um. O centro do alvo é Lula. Logo, FORA LULA!Por imposição da agenda política de 2008, todos os partidos precisam mobilizar suas máquinas eleitorais no próximo período. Se o clima de opinião dominante no país for adverso ao petismo, a oposição sairá das urnas fortalecida. Além disso, as disputas locais introduzem elementos desagregadores nas relações entre os partidos que sustentam Lula no plano federal.Lembro que, ao longo de todo o reinado de Lula, o único momento em que o petista ficou com sua estatura política perante a opinião pública do efetivo tamanho do petismo, foi quando atingiu apenas 29% de popularidade, em dezembro de 2005 segundo o Datafolha, no apogeu dos escândalos do mensalão e após seis meses de tiroteio constante contra o governo na mídia.


Nessa época Lula sangrou apoio inclusive junto a segmentos eleitorais de baixa renda; baixo grau de instrução e dos grotões. Mas, não esqueçamos que o tiroteio midiático do mensalão foi protagonizado por Roberto Jefferson, que sempre preservou Lula afirmando que ele não sabia de nada e que a culpa era só do PT. A oposição foi absolutamente incompetente, o tempo todo, especialmente ao recusar-se a cassar Lula mesmo diante da confissão de Duda Mendonça de que havia sido pago no exterior pelos serviços de marketing eleitoral prestados a Lula em 2002, com dinheiro sem origem.


De lá para cá Lula consolidou a compra das classes populares com o bolsa esmola, empregou mais militantes no governo, liberou mais dinheiro para sua rede de sindicatos e ONGs, comprou o pedaço do PMDB que lhe faltava, permitiu o aumento do lucro dos bancos e usufrui os benefícios da estabilidade econômica e do aumento do poder de compra da população em função do Real valorizado, com o qual comprou o apoio eleitoral de parte da classe média no segundo turno de 2006, também. Portanto, não convém nutrir ilusões com um movimento cuja consigna é "Cansei" (logo; vou descansar).