segunda-feira, 18 de junho de 2007

O irmão de Lula




Por Ipojuca Pontes - ipojuca@wscom.com.br









Na sucessão de escândalos que tomam conta do país, agora em intervalos semanais, a bola da vez é o irmão do presidente Lula da Silva, Genival Inácio da Silva, o Vavá, suspeito de tráfico de influência e exploração de prestígio na prática de um “lobismo” que alguns comentaristas definem como de “fancaria”. De fato, Vavá não é nenhum noviço na rendosa atividade: em 2005 a revista Veja, a partir de farto material, denunciava o irmão do presidente de ter aberto um escritório em São Bernardo, São Paulo, para intermediar negócios entre empresários sequiosos de privilégios e os diversos organismos oficiais controlados pelo governo petista. À época, apanhada com a boca na botija, Vavá negou que intermediasse negócios em ministérios ou órgãos governamentais, assegurando aos repórteres bisbilhoteiros que apenas explorava uma agência de viagens com “dois amigos de confiança”. Passados dois anos, o irmão do presidente volta às manchetes, agora com dois novos amigos, Dario Morelli Filho e Nilton Cezar Servo.




O primeiro, um membro do PT, compadre de Lula e segurança na campanha presidencial de 2002; o segundo, um ex-deputado estadual do PSB-PR, acusado de comandar quadrilha de jogos ilícitos em vários estados – os três apontados pela Polícia Federal como lobistas envolvidos em negociatas lesivas ao interesse público. A partir de gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal, com autorização judicial, o país ficou sabendo das manobras lobistas de Vavá, tido pelos companheiros contraventores, curiosamente, ora como um “véio picareta” ora como um puro e simples “cara-de-pau filho da puta”. Com efeito, perfila nas gravações da PF um vasto repertório de conversas suspeitas e indicativas do mais desavergonhado “lobismo”. Numa delas, prometendo viabilizar pedidos, o Vavá informa aos parceiros, com um tanto de empáfia, que falou com o próprio Lula a respeito das máquinas de jogos eletrônicos (“caça-níqueis”), advertindo ao irmão-presidente que “esse pessoal (do governo?) precisa andar mais rápido”. No esquema das negociatas encaradas como lobby a Polícia Federal tem Vavá na conta de mero “terceirizado”, recebendo “empréstimos”, em geral, na ordem de R$ 2 mil, classificados como “pacotinhos de dinheiro”. Segundo as gravações, o trabalho de Vavá consistiria em explorar o prestígio de irmão do presidente junto a bancos oficiais, estatais, ministérios e até o Superior Tribunal de Justiça. Numa dessas operações, em que traficaria sua influência em favor de ruralistas de São Paulo num caso de desapropriação de terra feita pela hidroelétrica de Furnas, negócio arrumado pelo ex-deputado Servo, Vavá teria resolvido a coisa em Brasília, sozinho, dando um “banho” nos sócios – razão pela qual foi considerado pelo ex-deputado como um “picareta véio”. O ocupante do Palácio do Planalto tem encarado a Operação Xeque-Mate com algum desconforto. De início, quando o caso ganhou as manchetes dos jornais, embora realçando o papel da Polícia Federal, Lula disse acreditar na inocência do irmão mais velho, para ele, um “paizão ingênuo”.




Posteriormente, diante da evidência das intermediações escabrosas, o presidente, que já sabia da ação do irmão-paizão desde 2005, admitiu que Vavá, no caso, estava mais para lambari (peixe de tamanho reduzido) do que para um “cardume de pintados” (peixes de tamanho avantajado). De tamanho avantajado ou não, dentro do esquema considerado criminoso pela Policia Federal, o fato é que muito provavelmente o lobista Vavá apenas será chamado às falas, como foi anteriormente, e logo depois esquecido – até a emergência de novos escândalos, a desmoralizar ainda mais a já desmoralizada nação brasileira. De cabeça, nesta cantiga monótona, menciono, ocorridas no governo Lula, as operações Navalha, Furacão, Anaconda, Vampiro, Themis, Sanguessuga, Xeque-Mate, etc., envolvendo cerca de 5 mil pessoas, entre elas Jorge Lorenzetti, Freud Godoy, Oswaldo Bargas, Luiz Gushiken, Delúbio Soares, José Genoíno, Antonio Palocci, Ricardo Berzoini, Silas Rondeau, Silvio Pereira, Duda Mendonça, Humberto Costa, Zé Dirceu e Paulo Okamotto. Até hoje, ninguém ficou atrás das grades por mais de 72 horas, se a tanto chegou.




Salvo exceção, todos estão livres e armando novos e promissores negócios na órbita do poder. E sejamos justos: salvo exceção, a sociedade já perdeu a noção do que seja a palavra decência nos escaninhos do poder. Parte da população considera tudo perfeitamente compreensível, pois “a vida é mesmo assim”, sendo considerado idiota quem não entrar na dança. Nos seus cadernos do cárcere, Antônio Gramsci ressaltava a importância de se usar as prerrogativas da liberdade da democracia representativa para se chegar ao comunismo. Na “guerra de posições” adotada pelo partido hegemônico, o importante, como passo inicial, é pulverizar os valores éticos e morais que alicerçam os pilares da democracia burguesa para, em seguida, esmagá-la sem derramar gota de sangue. Assim, a corrupção, ou o estado aético em vigência, não passa de um instrumento estratégico na “transição para o socialismo”, com o qual seria viabilizado em definitivo o projeto totalitário de poder.




É como diria Natchaiev, autor do Catecismo Revolucionário que levou Lenin à tomada do poder na Rússia: “Para se chegar aos fins pretendidos, será necessário incrementar o escândalo, o vício e a delação. Tudo deverá ser reduzido ao mesmo denominador comum. Provocaremos convulsões e o fundamental será o povo acreditar que temos consciência dos nossos objetivos igualitários. Espalharemos incêndios, criaremos lendas, daremos armas aos conspiradores. Então começará a desordem! O mundo marchará numa confusão jamais atingida. As trevas cobrirão tudo e a Terra chorará seus antigos deuses!” No caso brasileiro, qual é a dúvida?