domingo, 22 de abril de 2007

A UTOPIA REGRESSIVA DO MST


22.04, 11h28

por Orlando TambosiO “Abril Vermelho” do MST segue metodicamente a cartilha traçada pela “Teologia da Libertação”, cuja expressão máxima hoje é Dom Tomás Balduíno, conselheiro da Comissão Pastoral da Terra. Em entrevistas nos últimos anos, o prelado foi delineando claramente o caminho a ser traçado pelos discípulos: invadir terras e centros de pesquisa das diabólicas multinacionais do agronegócio. A tomada da Aracruz Celulose pelo MST e pela Via Campesina, no ano passado, com a destruição de laboratórios de pesquisa, foi o estopim da marcha que prossegue violando a lei em várias regiões do país. O grande inimigo desses movimentos é o eucalipto, esta maldita árvore “neoliberal”.De fato, não há como ignorar o incentivo de setores da Igreja Católica às invasões. Formados na chamada “Teologia da Libertação”, esses setores sempre se apresentaram como "progressistas", mas são, na verdade, reacionários. Sua aversão ao mundo existente evoca a velha contraposição romântica entre Gemeinschaft (comunidade) e Gesellschaft (sociedade): a comunidade é a pequena vila rural, orgânica, lugar da solidariedade familiar, do coletivo e da tradição, enquanto a sociedade é o predomínio do mecânico, o mundo burguês do individualismo e do mercado. O capitalismo corrompe o protegido "mundo comunitário", que cede lugar a um mundo aberto e dinâmico, onde reina a lei da concorrência e do lucro e prevalecem as relações impessoais e utilitaristas. Como Marx viu bem, o capitalismo submete tudo a uma "revolução permanente". Contrária a essa revolução desde a origem (vide Contra-Reforma), a Igreja volta-se ainda hoje, nos países menos desenvolvidos, contra a “invasão do capital” e a conseqüente dissolução de seu mando. No seu ideário, a Gemeinschaft é a velha paróquia, o lugarejo onde o púlpito ditava as regras e a batina simbolizava o poder maior. Sob essa batina pretensamente revolucionária escondeu-se sempre a velha reação à modernidade, a negação da revolução científico-tecnológica, esta sim revolucionária. É certo que, como toda revolução, a tecnológica tanto constrói quanto destrói. Ela está destruindo uma cultura antiga, agrícola, criada há dez mil anos, e compelindo a humanidade a renunciar a técnicas obsoletas e ao patrimônio cultural dos antepassados. Esse conflito praticamente se esgotou em todos os países industrializados, mas ainda gera resistência e protestos, rebeliões e angústia em países em desenvolvimento. É o preço que pagamos pela civilização.EM BUSCA DO CAMPONÊS PERDIDOOra, retornar ao velho mundo agrícola - sem ciência nem tecnologia – implicaria igualmente regredir aos níveis de produção alimentar do passado, e, conseqüentemente, aos valores demográficos do passado. Menos alimento, menos gente. Não há como fugir disso. Por outro lado, a população brasileira urbanizou-se de maneira vertiginosa a partir dos anos 50 do século passado, atingindo hoje mais de 80 por cento. É na cidade que está o "camponês" do MST e da Via Campesina. Quem estaria disposto a voltar ao campo para viver e plantar nas paróquias idealizadas por essa “teologia” apimentada com marxismo de orelha?Não é à toa que o MST procura arrebanhar forças na periferia dos centros urbanos. Sua utopia já não se restringe aos supostos "milhões de sem terra.“ O que João Pedro Stédile e seus comandados querem é o poder, retomando a via revolucionária que a história demonstrou fracassada. Basta lembrar que as três grandes revoluções socialistas do século XX tiveram como desfecho, para além dos milhões de mortos, um “capitalismo selvagem” no caso da China, um “capitalismo mafioso” na Rússia e uma situação de miséria e colapso econômico no caso de Cuba.Apesar das duras lições da história, parece ser este o retrógrado projeto do MST (em parte alimentado por verbas públicas), que vai ganhando fôlego diante da letargia dos poderes da República – particularmente do governo, incluindo os estaduais - e do discreto apoio de setores do PT, do qual é uma espécie de “braço armado”. Quanto às entidades representativas da sociedade, que outrora lutaram pela democracia e pelo Estado de Direito, apenas fazem vistas grossas. O caminho está livre para se buscar o retrocesso.

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